sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Patrimônio fossil

Em sua coluna Caçadores de fósseis, o colega Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional, comenta o trabalho que Márcia F. de Aquino Santos publicou sobre um besourinho fóssil de menos de um centímetro, que ganhou o nome Arariperhinus monnei. O bichinho tinha o jeito de um bicudo, a praga do algodão, ou algum tipo de gorgulho.

Ora, e daí? Descobrir um gorgulho de 115 milhões de anos tem grandes implicações na compreensão de como as plantas angiospermas evoluíram. Se essas informações forem usadas de maneira adequada, cruzando-as com outras, poderemos mesmo entender a melhor maneira de controlar infestações em nossas lavouras, sem precisarmos apelar para tanto veneno.

O Arariperhinus faz parte do maior grupo de coleópteros (besouros) conhecido: o Curculionoidea, que tem cerca de 62 mil espécies descritas. Um documentário exibido na TV Escola foi quase todo dedicado a ele.

A descoberta abre portas importantes: até este trabalho, acreditava-se que o grupo teria surgido no Oligoceno, há cerca de 30 milhões de anos. Agora, é preciso revisar esse conceito, pois o bicho viveu 85 milhões de anos antes disso. Mais: como os curculionoídeos comem sementes, frutos e flores de angiospermas, a região do Araripe deve ter apresentado importantes ocorrências dessas plantas, ainda no Cretáceo.

Por outro lado, a coleta predatória e descuidada de fósseis pode pôr a perder espécimes importantes. A revista Cretaceous Research traz o artigo A protoceratopsid skeleton with an associated track from the Upper Cretaceous of Mongolia sobre uma possível associação entre um fóssil de protoceratopsídeo e uma pegada - seria a primeira vez que se consegue tal feito. Como relatam os autores, "achar um dinossauro morto sobre suas pegadas é o Cálice Sagrado da icnologia de vertebrados". A Paleontologia é cheia de casos em que fósseis foram redescritos, revolucionando conceitos. Amostras cuidadosamente preservadas em museus e centros de pesquisa permitem que uma nova luz seja aplicada às velhas observações. É o caso, por exemplo, do ovirraptor, que foi descoberto deitado sobre um ninho de ovos; pensou-se que era um "ladrão de ovos", pois os paradigmas da época, eram que dinossauros não cuidavam dos filhotes. Uma revisão mostrou que era uma mamãe cuidadosa, que morreu soterrada sobre sua ninhada.

Já foram descritos cerca de 300 insetos diferentes na Formação Crato da Bacia do Araripe, uma região que tem sido objeto de coleta predatória de fósseis. Claro que um turista daria um dinheiro razoável por um besourinho fóssil, que ficaria empoeirando na sua estante até que fosse parar no lixo. E estas informações todas jamais teriam sido levantadas.

O Brasil precisa muito de geólogos, incusive que atuem no policiamento de nossos patrimônios naturais. Precisa, também, de uma aplicação efetiva de suas leis, o que demanda fiscalização insistente mas, principalmente, educação. Na mesma coluna, Alexander comenta estudo feito na Argentina sobre trilobitas. Colegas que viajaram àquele país relatam que, lá, se você for pego com um fóssil na sua bagagem, a punição será severa, pois é considerado roubo e contrabando de um bem nacional.

Precisamos desenvolver essa perspectiva aqui no Brasil. Educar e conscientizar sempre será mais importante que vigiar e punir.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Formatura de nosso filho Pedro Garcia

Temos a satisfação de convidar a todos para a formatura de nosso filho Pedro Maciel de Paula Garcia.

Dia 28 de julho, quinta-feira - 20h00.

Reitoria da UFBA (Canela)


Mariene e Argemiro

terça-feira, 5 de julho de 2011

Conclusão de curso: Pedro Garcia

Meu filho Pedro Maciel de Paula Garcia está concluindo o curso de Geologia no Igeo da UFBA. Nesta sexta-feira, dia 8 de julho, às 9h10, apresentará seu TFG:

Análise comparativa de dados geológicos, litogeoquímicos e geofísicos das formações ferríferas do complexo Boquira e supergrupo Espinhaço na região de Boquira, BA.
A banca será constituída por: Prof. Dr. José Haroldo da Silva Sá (IGEO/UFBA), seu orientador; Prof. Dr. Aroldo Misi (IGEO/UFBA); e Dr. Ernesto Fernando Alves da Silva (CPRM).

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O geólogo

O colega argentino Osvaldo L. Bordonaro dá um empolgado depoimento das contradições que cercam a nós, geólogos. Só compartilhando esse estranho gosto que temos em ver beleza nas pedras mais toscas e a elas dar nomes, ou em sentir liberdade ao entrar em uma caverna, para entender-nos, pessoas tão estranhas que somos.

El geólogo es un ser con distintas personalidades,
Porque en esta profesión se conjugan en una misma persona,
facetas que se antojan dificiles de compatibilizar:
El campo con la ciudad, la naturaleza con la sociedad,
El bullicio con la soledad y las rocas con la realidad.
El geólogo parece frío y calculador,
Aunque en el fondo es un bohemio soñador.
Lo encuentras en el avión comiendo los mejores manjares
y bebiendo el vino de ocasión
y algunas horas depues,
bebiendo agua del arrollo con tepocates
y unas galletas con sardina.
Mezcla de científico con aventurero.
Pragmático y viajero, preocupado y despreocupado.
Apasionado incurable, ermitaño irremediable.
El geólogo es naturalista por vocación,
Aunque disfruta del fútbol, un libro o la televisión.
Antisociable y gruñón, ironicamente le gusta la fiesta,
El vino y los amigos en reunión.
Extrovertido en su actitud,
pero prefiere el silencio y la quietud.
aparenta ser tosco, rudo y machista,
aunque tiene sensibilidad de artista.
Se emociona al hallar un fósil o un mineral,
Pero lo hace llorar la alegría de su hijo al verlo regresar,
lo mismo que al verlo marchar.
El geólogo lleva múltiples pasiones en sus intimidades,
Con ellas trata de nivelar sus angustias y necesidades,
las dolencias, las frustraciones y las voluntades.
con ellas medio soporta la soledad interminable,
o el cansado traqueteo de un mular
o agobiantes jornadas en solitario caminar.
la desazón de dejar la familia,
los amigos y el cómodo sillón.
Prescindir de las fechas, fiestas y cumpleaños
y nunca salir en fotos familiares o sociales
Para dedicarle al campo su energía y sus mejores años.
Ausentarse largos períodos por un salario variable o fijo,
Demasiado tiempo para no ver a sus hijos.
Y cuando está tranquilo en su casa con los que ama,
Siempre está pensando en volver.
El campo es su laboratorio, unas rocas le sirven de amigos,
La carpa o el trailer es su oficina, allí le pone el cuerpo al clima.
Sobrevive en el desierto, en la selva o en el hielo.
Duerme en un catre, en una lona o en el suelo,
Se aguanta el frío y la aridez, el viento y la tierra,
Le da lo mismo el calor, si llueve o si nieva.
El geólogo se desempeña en toda nuestra geografía.
En el frente de una cantera o en el fondo de una mina,
En un dique o en una montaña.
En Sonora o en el Popo, en el Aconcagua o en la Patagonia.
En la excavadora o junto a una máquina de perforar.
Y cuando está en el laboratorio o en la oficina,
añora el campo con su dosis de adrenalina.
Y cuando vuelve cansado o estresado,
Extraña el descanso bajo un cielo estrellado,
Con la mirada extasiada frente al arrolluelo cristalino o el fogón.
El geólogo es multifacético por necesidad,
Le hace a todo oficio ante la adversidad.
Escalador, montañista, mecánico, electricista,
carpintero, capataz, muestrero, fotógrafo, cantor, guitarrero.
matemático, dibujante, informático, naturista, poeta,
psicólogo, cocinero y curandero.
Muchos geólogos dieron la vida por esta arriesgada profesión:
Un desplome en la mina por una inesperada explosión,
Un barranco traicionero por escapar del aguacero,
Un vuelco en el camino por mirar una estrella.
Una descompensación en altura por trabajar con premura,
Un accidente caprichoso por un descuido azaroso.
Una grieta, un derrumbe o una nevada fueron su última morada.
Así es el geólogo, mi amigo, muchos personajes lleva consigo,
Y si tienes ganas, a brindar te obligo,
Por ese geólogo que siempre llevas contigo.

| Osvaldo L. Bordonaro | Geólogo | Diario Los Andes, martes, 15 de junio de 2010 |

http://www.losandes.com.ar/notas/2010/6/15/escribeellector-496214.asp

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mamãe devoniana


Um fóssil descoberto em 2009 um sítio fossilífero no sertão australiano trouxe novas informações para a Biologia da Reprodução. O pesquisador John A. Long e seus colegas publicaram um trabalho em que descrevem um peixe placodermo, grupo extinto que viveu durante o Devoniano (há 380 milhões de anos).

O fóssil foi encontrado em sedimentos da Formação Gogo, no noroeste australiano, tão bem preservado que é possível identificar as marcas de nervos e músculos e a presença de um pequeno peixe da mesma espécie dentro do seu ventre.

Essa observação levou à revisão de outros espécimes conservados em coleções de institutos de pesquisa e museus, confirmando em outros fósseis a presença desses embriões. Veio, também, confirmar a suspeita de paleontólogos que já haviam percebido a presença de clásperes, órgãos similares a pênis com a função de fecundação interna.

Anteriormente a esta descoberta, os fósseis mais antigos com indicação de prenhez eram de tubarões, 30 milhões de anos mais novos.

Aquatic Sex: Pregnant Fish Fossils Found
http://www.cbsnews.com/stories/2009/02/25/tech/main4829038.shtml


The oldest pregnant mum
http://www.nature.com/news/2008/080528/full/453575a.html

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tsunami do Japão - antes e depois

Uma boa noção do estrago causado pelo tsunami, ou maremoto, ocorrido no Japão, pode ser obtida nas fotos dav ABC News. Basta mover o mouse por sobre as fotos para ver o "depois" do fenômeno.

Japan Earthquake: before and after
http://www.abc.net.au/news/events/japan-quake-2011/beforeafter.htm


Mergulhador mostra a falha que separa América da Europa

Mergulhador no cânion entre as placas da América do Norte e Eurásia
A Islândia (Iceland, terra do gelo) é reconhecida como sendo a porção emersa da dorsal meso-atlântica, a cordilheira, na maior parte submarina, formada pela separação entre as placas de Oeste (América do Sul e do Norte) e Leste (África e Eurásia).

Um mergulhador fotógrafo e sua equipe mergulhou no Parque Nacional Thingvellir, na Islândia, para mostrar os Cânions formados pela separação entre as placas. As fotos estão disponíveis em:

Mergulhador fotografa divisão entre placas tectônicas na Islândia
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/album/bbc/1105_mergulhador_album.jhtm

quarta-feira, 20 de abril de 2011

evolucao do ouvido

A partir de um fóssil do Cretáceo Inferior, surgem hipóteses de como o aparato auditivo dos mamíferos evoluiu.

Um fóssil de crânio de Liaoconodon, coletado na China, na Formação Jiufotang, mostra que os ossos do ouvido médio, nessa espécie, ainda eram conectados à mandíbula.

O ouvido médio de mamíferos se constitui de três ossos, martelo, estribo e bigorna, que conduzem até o ouvido interno as vibrações que chegam ao tímpano. Os paleontólogos perceberam que os ossos do ouvido médio ainda se encontram ligados à mandíbula - nos mamíferos atuais, eles se encontram separados.

O Liaoconodon é um mamífero pertencente a uma l inhagem extinta de mamíferos, os eutriconodontes. A excelente preservação deste exemplar permite, assim, avançar na compreensão de como se desenvolveu a nossa audição.

Mammalian evolution: A jaw-dropping ear
http://www.nature.com/nature/journal/v472/n7342/full/472174a.html

Patrimônio geológico dilapidado

O Folhelho Burgess (Burgess Shale) é um dos raros lugares no mundo que preservou fósseis do Cambriano, saindo dali importantes informações sobre com surgiram seres pluricelulares - na época, apenas invertebrados. Situado nas Montanhas Rochosas canadeneses, foi grande fonte de pesquisa para entender a evolução dos seres vivos - em última instância, de nós mesmos.

Foi a partir dos fósseis coletados em Burgess Shale que a Paleontologia definiu o que veio a se chamar a "Explosão Cambriana", o repentino (em termos geológicos) surgimento de uma grande biodiversidade, a mais antiga documentada. Trilobitas como o mostrado a seguir, habitavam os mares daquela época (foto de http://www.wagner.edu/news/node/1392).


Eram animais estranhos, muito diferentes, na maioria, do que encontramos hoje - ainda que algumas raras espécies possam ser vistas ainda hoje, como é o caso do Peripatus acacioi, existente apenas na região de Ouro Preto (MG) (foto copiada da Science Photo Library).


Uma reconstituição artística da biota cambriana dá uma ideia de como seriam aqueles bichos. O desenho abaixo é do site da banda alemã Burgess Shale. Já pensou? Tão significativo que virou nome de banda! (Deve ser de estudantes de Geologia).


Foi por isso que senti enorme pesar quando li, em um artigo sobre a proposta de formar um banco de dados sobre fósseis, que o Folhelho Burgess "é um local bem conhecido e foi pilhado até a morte", segundo Jonathan Antcliffe, paleobiólogo da britânica Universidade de Bristol.

Aqui, como na Argentina, coletar fósseis é ilegal. Nos Estados Unidos, só é ilegal nas terras públicas. No Canadá, como aqui, o patrimônio da humanidade continua sendo dilapidado por pessoas com interesse apenas no seu enriquecimento pessoal.

Fossil data enter the web period
http://www.nature.com/news/2011/110411/full/472150a.html

(Palaeontologists call for more sharing of raw information)

Usinas nucleares e terremotos

A imagem abaixo mostra a distribuição de usinas e demais instalações nucleares em todo o planeta, bem como a chance de ocorrência de terremotos. A cor indica, de baixo para cima, a maior sismicidade. Verifique que as usinas brasileiras se encontrma fora de qualquer risco de abalos sísmicos.


Leia o artigo Nuclear power stations and reactors operational around the world: listed and mapped:
http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2011/mar/18/nuclear-reactors-power-stations-world-list-map

http://bit.ly/fnbYpI

quinta-feira, 31 de março de 2011

Mais recente mapeamento do geoide

A forma da Terra, qual é?

Quem diz que a Terra é esférica errou. A forma de nosso planeta é um geoide.

E o que é um geoide? É a forma da Terra!

Geodésia é a ciência dedicada a definir o que é esse geoide. Agora, o satélite GOCE, a Agência Espacial Europeia, a ESA, acaba de remapear nosso planeta, apresentando com grande precisão o geoide.

Para ver mais, clique em:
Earth's gravity revealed in unprecedented detail
http://www.esa.int/esaCP/SEM1AK6UPLG_index_0.html

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Reservas ambientais em São Paulo

| 4/2/2011 | Agência FAPESP (e-mail) |

Agência FAPESP – Geraldo Alckmin, o governador paulista, anunciou em 1º de fevereiro a oficialização de quatro novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), localizadas nos municípios de Bertioga, Amparo e São José dos Campos.

Segundo a Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo, que já dispunha de 4,7 milhões de hectares de áreas protegidas, ganhará mais 1,39 mil hectares.

As RPPNs constituem uma categoria de unidade de conservação, prevista na legislação federal, que possibilita que propriedades privadas sejam transformadas em áreas de proteção ambiental.

Duas das quatro novas reservas estão localizadas no município de Bertioga: a Costa Blanca, da Barma Empreendimentos e Participações, com 296,93 hectares, e a Hércules Florence 1 e 2, da Companhia Fazenda Acaraú, com 709,57 hectares.

Já a RPPN Fazenda Boa Esperança, em Amparo, com 31,30 hectares, está sendo criada pela Aracaju Participações. Por sua vez, a reserva "O primata", em São José dos Campos, que está sendo criada por Walter Cerigatto Costa, será a maior reserva particular mantida por uma pessoa física em São Paulo.

O programa RPPN Paulistas, criado em 2006, já promoveu a criação de 17 novas reservas, totalizando 12.889,07 hectares de áreas particulares protegidas.

Anteriormente, entre 1992 a 2006, quando a criação de RPPNS era feita pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o estado contava com 38 reservas, com área total de 3.859,83 hectares.

Com a criação das quatro novas áreas, São Paulo passa a contar com 59 RPPNs, com 18.130,63 hectares. As RPPNs são reconhecidas por meio de uma resolução da Secretaria do Meio Ambiente.

“É importante o reconhecimento do governo dessas reservas privadas, que devem fazer parte do sistema estadual de áreas protegidas. Com essa parceria, queremos produzir um atlas com características dessas reservas. Isso é importante para a preservação da biodiversidade do estado de São Paulo”, disse Cláudio Maretti, superintendente de conservação da WWW-Brasil, que anunciou uma parceria entre a ONG e o Instituto Florestal durante o evento.

Mais informações:
www.ambiente.sp.gov.br/verNoticia.php?id=1095

Mais áreas protegidas
http://www.agencia.fapesp.br/materia/13408/noticias/mais-areas-protegidas.htm


Tira-duvidas sobre RPPNs:
http://www.oeco.com.br/maria-tereza-jorge-padua/16303-oeco_23715


Decreto 1922/1996:
http://www.unisc.br/rppn/decreto_1922_1996.pdf

http://www.viaecologica.com/htms/leis/rppn.php

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Redes de captação de águas pluviais. O grande vilão dos desastres de Nova Friburgo.

REDES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS. O GRANDE VILÃO DOS DESASTRES DE NOVA FRIBURGO.
| Mauro Zurita Fernandes | Geógrafo | IBAMA Nova Friburgo/RJ |
| Texto repassado para a lista FEBRAGEO-Brasil |


Vamos tentar ser bem diretos e simples em nossas contribuições.

As chuvas naturalmente são bem distribuídas nas superfícies em que se precipitam.

Quando essas chuvas caem sobre áreas florestadas há o amortecimento das gostas evitando a desagregação do solo pela força do seu impacto e, assim, a penetração da água no solo se dá de forma tênue e contínua, situação que permite melhor absorção evitando os escoamentos superficiais bem como a saturação das camadas inferiores e, também, os deslizamentos.

É interessante ter bem claro que a erosão dos solos é um processo natural, mas que as ações humanas podem acelerar esse processo.

Especialistas estimam que numa área coberta por vegetação nativa, há uma perda anual de aproximadamente 4 Kg de solo por ha. Já em uma área de pastagem (capim braquiária, por exemplo) essa perda aumenta para 700 Kg por ha. Já numa área com plantação de café, por exemplo, a perda chega a 1.100 kg por ha ao ano.

Entretanto as áreas urbanizadas, onde não há a perfeita rede de drenagem das águas pluviais, (telhados, lajes, acimentados, calçadas, asfaltos, etc...) acumulam essas águas e as despejam concentradas em pequenas áreas de solo, causando processos erosivos com maior intensidade.

Uma chuva forte, normal em tardes de verão, pode atingir em torno de 60mm durante uma hora. Isso significa dizer que pode chover 60 litros de água em um metro quadrado, em uma hora.

Agora imagine se esses mesmos 60mm de chuva caem sobre uma pequena casa (uma meia-água por exemplo) num telhado de 50m², que tem uma calha que concentra a água num determinado ponto do terreno...

Assim, 60 x 50 = 3.000mm ou seja, 3.000 litros de água de chuva que caem no telhado e que são despejados num determinado ponto de um terreno no período de uma hora.

Obviamente que, dando as devidas proporções numa área de ocupação com várias residências, essa quantidade de água sobre um pequeno espaço de solo não será absorvida, gerando assim os escoamentos superficiais e, consequentemente, processos erosivos, arrastando vegetação, pedras, terra, etc... E, além dos escoamentos superficiais, se houver um ponto no solo onde esta água se infiltre, este ficará saturado podendo desencadear os citados deslizamentos de barrancos.

Obviamente que vimos, nessa tragédia que se abateu sobre Friburgo, situações naturais de enchurradas e deslizamentos de talude, mas também vimos, e em muito mais porcentagem, casos ocorridos por falta de rede de drenagem de águas pluviais, em ambientes urbanizados.

Vejamos o caso das construções no alto do teleférico, no Hotel Torre de Itália:

Utilizando o Google, eu estimei de área impermeável (lajes, acimentados, telhados, vias de acesso, etc...), por baixo, aproximadamente 3.500m² de área. Então, se na madrugada do dia 12 choveu 250mm, a gente pode estimar que nessa madrugada foram acumulados 875 mil litros de água (250 x 3.500) que devem ter descido por algum local, e que se este local não estiver conduzindo bem essas águas, certamente haverá problemas de escoamento superficial ou deslizamento de encosta. Vejam, estou supondo e não afirmando.

Quanto ao barranco que desceu na subida do teleférico, que caiu sobre a Cultura Inglesa, no ano de 2007 e que se repetiu agora, fechando a FONF, nada mais é do que uma "boca de lobo" que recolhe a água da chuva e despeja justamente no talude instabilizado. E pasmem: ninguém se dispõe a tapar essa "boca de lobo".

Então é muito importante que as habitações com telhados ou lajes, as ruas, as estradas, as áreas cimentadas, asfaltadas, etc.. tenham redes de captação e destino de águas pluviais muito bem conduzidas no sentido de se evitar tais tragédias.

Assim, sugiro que cada cidadão deva verificar em sua propriedade como as águas das chuvas de seus telhados, quintais, lajes, ruas, etc... estão escoando e promover a devida canalização e destino final. Por sua vez o poder público municipal deve administrar par-e-passo essa questão fiscalizando e promovendo as devidas adequações.

Agindo assim estaremos dando um passo bem significativo na prevenção de acidentes relacionados às chuvas, em nosso município.

Espero estar contribuindo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tragédia repetida

| Luiz F. Vaz | O Estado de S.Paulo | 24/01/2011 |
(GEÓLOGO, É PROFESSOR CONVIDADO DO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP)


A tragédia que se abateu sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro foi violenta e destruidora, mas não é um caso isolado ou fortuito. Em março de 1967 fenômeno semelhante aconteceu próximo a Caraguatatuba, ceifando 120 vidas e deixando a água do mar suja até hoje. Pouco antes, em janeiro, fora a vez da Serra das Araras, ao longo da Via Dutra, e, apesar de ter ocorrido sobre áreas predominantemente rurais, levou 1.200 vidas.

Esses dois eventos destruidores ocuparam uma área elíptica, com cerca de 30 km de extensão máxima. Se tivessem como centro a Via Anchieta, teriam interrompido todas as ligações São Paulo-Santos, incluindo as linhas de transmissão, dutos e cabos. Felizmente, não houve outros de tal magnitude, mas desastres similares atingiram a região de Cubatão em 1985 e 1994. Em 2000, uma única corrida de lama manteve uma pista da Anchieta fechada por mais de 50 dias. Casos de proporções semelhantes ocorreram na região de Blumenau-Itajaí em 2008, na de Angra dos Reis em 2009 e, anteriormente, em Petrópolis, Rio de Janeiro e vários outros locais. Essa pequena lista mostra que os deslizamentos são fenômenos recorrentes, variando apenas a sua gravidade.

O mecanismo desses deslizamentos segue o mesmo padrão: alguns meses consecutivos de chuvas contínuas, não necessariamente fortes, seguidos por um período concentrado de precipitações muito fortes; os vazios da camada de solo ficam saturados pelas chuvas contínuas, reduzindo a resistência do solo; como a água da chuva forte não tem como se infiltrar, escorre pela superfície, transformando o solo em lama e carregando árvores e blocos de rocha. Esse processo é conhecido como corrida de lama, pela alta velocidade do deslizamento, que pode chegar a algumas dezenas de quilômetros por hora.

Estudos desenvolvidos pelos geólogos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) há mais de 20 anos, e mais recentemente pelo Instituto Geológico, ambos do governo paulista, conseguem identificar o volume de chuva acumulado que propicia a deflagração de escorregamentos, determinam as áreas de risco e elaboram sistemas de alerta. Trabalho semelhante desenvolvido pela prefeitura de Santos, ao tempo em que uma geóloga ocupava uma das secretarias da cidade [nota deste blogueiro: minha amiga Cassandra Maroni Nunes, vereadora em Santos pelo PT], permitiu que tanto em Cubatão como em Santos eventos desse tipo fossem antecipados e medidas de prevenção, adotadas.

A falta de instrumentos legais, porém, dificulta a prevenção. Não há lei que obrigue o morador a desocupar seu imóvel, exceto em caso de risco iminente. Ora, definir risco iminente é difícil quando se lida com fenômenos naturais e, na prática, ninguém pode ser removido das chamadas áreas de risco sem o seu consentimento. Uma ação do Ministério Público, quando cabível, demanda de 10 a 20 anos para ser concluída. Nos casos de Cubatão e Santos, um trabalho de conscientização e treinamento da população e a utilização de monitores da própria comunidade permitiu a adoção de medidas de prevenção.

Apesar das lições anteriores, tanto de deslizamentos funestos como de iniciativas bem-sucedidas, nunca foi formulada nenhuma política ou diretriz sobre o assunto. Mesmo com a grande maioria dos processos de deslizamento diretamente associados às condições geológicas, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão federal encarregado de estudos geológicos e hidrológicos, nunca recebeu a missão (nem verbas) de desenvolver trabalhos de prevenção, exceto em alguns casos localizados.

Os serviços de defesa civil tampouco estão preparados para atender a situações de calamidade. Sua organização é predominantemente transitória, contam com recursos reduzidos e, principalmente, não dispõem de base legal para atuar e assumir o comando em caso de desastres naturais. O despreparo é geral, basta constatar que, na serra fluminense, o socorro só chegou vários dias depois e ainda hoje depende da ação de voluntários. Em pleno caos, o governo, numa medida demagógica, prometeu a liberação do FGTS. Dinheiro é sempre bem-vindo. Mas as pessoas ilhadas nas comunidades serranas do Rio precisavam de água, comida, energia, acesso, comunicação, limpeza e, depois, de dinheiro.

Após os violentos desastres naturais e também os induzidos pelo homem nos últimos anos, principalmente o vazamento de petróleo no Golfo do México, nota-se uma tendência a substituir a política estratégica de longo prazo das grandes potências, voltada para os conflitos armados entre nações e grupos, por políticas de prevenção contra os efeitos das mudanças climáticas. Depois que fomos assolados, na última década, por uma série de terremotos violentos, tsunamis destruidores e enchentes formidáveis, as atividades de defesa civil estão sendo consideradas o foco da ação dos governos nas próximas décadas.

Até hoje não há evidências suficientes para afirmar que a ação antrópica seja responsável pelo aumento da temperatura. A Terra sofre mudanças climáticas alternando períodos frios e quentes. Há cerca de 120 mil anos houve um período de frio intenso, com o gelo avançando até os trópicos, resultando num abaixamento do nível do mar da ordem de cem metros. Esse período, que durou alguns milhares de anos, extinguiu muitas espécies e, aparentemente, teria sido responsável por eliminar a maioria dos nossos ancestrais, reduzidos a um grupo muito pequeno, conforme indicam as variações do DNA.

Seja devido à nossa voracidade por energia ou aos caprichos da Terra, o fato insofismável é que nosso planeta está aquecendo. Esse processo levará à elevação do nível dos oceanos e, além das ameaças às cidades e aos países à beira-mar, terá influência sobre o clima. Enfrentar as mudanças climáticas radicais e sobreviver a elas está se tornando a principal preocupação dos planejadores, de tal sorte que este século será, provavelmente, considerado o século da defesa civil.

Vamos fazer a nossa parte, começando pela legislação e pela organização da área de prevenção de desastres naturais!

(Enviado para s lista da Febrageo pelo autor.)