segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Nem as câmeras de TV impressionam os geólogos


| James Clarke | traduzido por Argemiro Garcia |
(Publicado em 28/3/2008 no The Star - África do Sul)

Recebi um interessante e-mail baseado numa nota de um mineralogista da Mintek em Randburg que falava sobre como a mídia raramente apresenta os geólogos à população em geral.

Se descontarmos algumas breves aparições de vulcanólogos no Discovery Channel, geólogos raramente chegam a ser mencionados, diz ele.

Bom, não é de estranhar...

Ele conta que uma grande rede de TV americana há algum tempo tentou usar geólogos em circunstâncias perigosas para fazer um programa no estilo de Survivor.

Contrataram uma equipe de produção e juntaram um grupo de geólogos que votariam para mandar uns aos outros ao "paredão", baseados em como reagiriam durante o cumprimento de tarefas perigosas como percorrer as cercanias de vulcões ativos, avaliar deslizamentos de terra, fazer vôos arriscados em áreas remotas e coisas assim. O "geólogo radical" remanescente ganharia um prêmio.

A equipe deparou-se com problemas desde o início.

Escolheram nove geólogos, seis homens e três mulheres, e os levaram até um vulcão muito instável nas Filipinas.

Os nove cientistas se deram muito bem com as câmeras, especialmente quando lhes era dado álcool.

Mas a equipe de filmagem logo percebeu que, mesmo depois de beber “galões”, os geólogos continuavam a falar com “um linguajar obscuro sobre brechas e lahars” - nada que ficasse bom num reality show.

A tensão só subiu quando o sismólogo e o geólogo estruturalista começaram a discutir aos berros qual seria a melhor receita de chilli.

Quando enfim os geólogos escalaram o vulcão para desvendar os seus segredos, partiram em direções diferentes e a equipe de câmeras foi incapaz de encontrar mais do que dois deles trabalhando juntos.

Os geólogos acharam que o vulcão poderia entrar em erupção a qualquer momento. Ao ouvir isso, os câmeras desapareceram.

O resultado quase não rendeu uma cena e os editores foram incapazes de dar sentido ao que tinham, porque não faziam ideia sobre o que os geólogos falavam.

Poucos dos cientistas pareceram entender a ideia de votar para expulsar um outro membro.

Finalmente, alguém lhes disse para apenas livrarem-se de alguém com base em qualquer critério e, assim, decidiram expulsar quem tinha menos habilidade com o martelo petrográfico.

O segundo episódio, aterrisar com um avião equipado com esquis em uma geleira do Alasca, falhou porque nenhum dos geólogos ficou nervoso e assim não houve apelo dramático - exceto entre a equipe de filmagem.

A equipe de filmagem se recusou a ir ao local de filmagem. Em vez disso, deram aos cientistas duas câmeras e pediram que filmassem uns aos outros.

Quando os editores tentaram trabalhar as cenas, descobriram que eram todas imagens de glacial erratics. Somente 10% das cenas mostravam seres humanos – principalmente um petrólogo parado passivamente para servir de escala.

Na zona vulcânica do Hawaii, a maioria dos câmeras desistiu, derrotados pela dieta de chilli e estressados com o perigo - só restaram cinco geólogos. Os demais ficaram tão fascinados com as formações rochosas que ficaram para trás.

Pagar pelo suprimento de cerveja e o transporte das pesadas pilhas de amostras de rochas quase acabou com o orçamento.

O projeto foi engavetado e, assim, os geólogos continuam sendo um enigma.

A minha experiência me diz que paleontólogos (caçadores de fósseis), apesar da mesma preocupação com rochas, dariam um material bem melhor.

Dariam uma esplêndida série Survivor porque são muito encrenqueiros, têm um grande senso de humor e agem dramaticamente quando, depois de passar dias deitados no pó raspando o chão, saem pulando, em êxtase.

Glenn C. Conroy, um professor de Paleoantropologia (paleoantropólogos procuram preferencialmente ossos de pré-humanos) da Washington University em St. Louis, Missouri, me contou sobre um restaurante canibal em que o cozido de paleoantropólogo era quatro vezes mais caro que o cozido de missionários.

Perguntado por que, o chef disse: “Já tentou limpar um antropólogo?”

Este artigo foi traduzido e divulgado com a permissão do autor, James Clarke.
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