quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O petróleo não foi descoberto no Lobato


| Nelson Cadeña | Tribuna da Bahia | Publicada em 22/01/2013 |

É bonita a história oficial da descoberta do petróleo no Brasil e a sua exploração comercial em 1939 por Oscar Cordeiro no poço do Lobato, na Bahia. É bonita, mas não é verdadeira. Meio século antes dessas incursões que o Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP do governo Getúlio Vargas se encarregou de carimbar como pioneiras, por indispensáveis para a construção de um projeto nacionalista, já se explorava “a lama negra” comercialmente em outra região da Bahia. E existem provas disso.

A história relata que o petróleo teria sido descoberto no Brasil, inicialmente, no posto de Bofete, São Paulo, explorado pelo fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo em 1897 e do que resultaram apenas dois barris e então considerado impróprio. Um conto da carochinha que tem um não sei o que de falso. Dois barris? Pelo amor de Deus. Então, a história se reporta ao posto já referido do Lobato, segundo ela o primeiro explorado comercialmente. Mas o fato é que se explorava petróleo e em grandes quantidades na Bahia entre mil oitocentos e alguma coisa e finais do século XIX. E por que a história oficial não conta isso? Imagino que por não ser um empreendimento brasileiro e sim uma empreitada de exploradores ingleses, comandados por John Cameron Grant que adquiriu a fazenda onde, os nativos diziam, jorrava uma lama escura. Localizada em Maraú, na Baía de Camamu.

É claro que o governo Vargas não tinha o menor interesse em ressaltar os feitos de estrangeiros, no passado, num contexto nacionalista, então em curso, da campanha “O petróleo é nosso” que alimentaria uma grande polêmica na mídia e na política durante 20 anos. E então investiu e consolidou a versão oficial que consagra Oscar Cordeiro e Manoel Inácio Bastos, descobridores da jazida do Lobato. Nenhum demérito para eles que tiveram contribuição decisiva no processo, até pelo empenho em tornar realidade o que num primeiro momento parecia uma aventura.

Retomando a história de John Grant, o cidadão registrou a marca da sua empresa, uma usina de petróleo, em 1888, e esse documento está no Arquivo Público do Estado, com o nome de Braziline, que é a junção das palavras Brazil na versão anglo e Gasoline. O documento especifica o uso da marca que tem um azul petróleo como base nos barris, tambores e nas caixas de madeira destinados ao transporte do querosene, um dos derivados. Ficamos sabendo que uma das utilidades era fornecer combustível para a iluminação pública e privada por candeeiros.

Escrevi sobre o assunto e para minha surpresa o colecionador e pesquisador Ubaldo Senna me enviou uma foto, adivinhem de quem? Do John Grant. Que aparece com um grupo de homens de barba e chapéu e alguns nativos, poucos, em frente a uma usina onde se destacam os tambores e uma tubulação semelhante a que se usa hoje nas refinarias da Petrobras, menos sofisticadas claro. John Grant explorava petróleo, sim, naqueles idos, e em grande quantidade, senão não teria construído uma ferrovia para o escoamento do produto.

O cidadão, segundo Senna, também explorava diamantes em Lençóis, Chapada Diamantina, e era um sujeito refinado, culto. No Amazon.com pode ser adquirido um livro seu: The Bits of Brasil, escrito em 1885, por US$ 18, que consta de poesias com base em lendas de nosso país, pelo que sugere o descritivo.

É bonita, sim, a versão oficial da descoberta do petróleo no poço do Lobato, convenhamos. Mas está na hora de investir em outro campo de investigação. A mística do “petróleo é nosso” é forte, mas no confronto com a história se contrapõe aos fatos.

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