Esta história foi contada pelo geólogo Pércio de Moraes Branco, na lista de discussões da Febrageo (Federação Brasileira de Geólogos). Publicada aqui com sua autorização.
Pois vou lhes contar uma história que até hoje não contei pra nenhum geólogo. Depois explico por quê.
Na
década de 90, estava eu fazendo cadastro de ocorrências minerais na
região de Caçapava do Sul (RS), quando, rodando por uma daquelas
estradas de terra do interior, vi, à esquerda, uma pedreira de granito
abandonada. Parecia nada ter de importante, mas precisava ser
cadastrada; afinal, era um ponto onde houvera produção de um bem mineral.
Deixei o carro na estrada, passei a cerca com meu colega e comecei a examinar o afloramento.
Era,
como eu esperava, uma pedreira comum, abandonada havia bastante tempo,
onde provavelmente fora extraído granito para produção de brita.
Estava
eu ali examinando o afloramento, quando, em dado momento, senti um
perfume muito agradável. Minha primeira reação foi atribuí-lo a alguma
flor silvestre. Mas, eu estava bem no melo da pedreira e não via nenhuma
flor. Bem, pensei, pode ser de alguma planta mais distante, com perfume
sendo trazido pelo vento. Só que não soprava a mais mínima brisa.
Intrigado,
lembrei que os espíritas e espiritualistas em geral dizem que uma das
maneiras pelas quais espíritos do bem se manifestam é através de
perfume. Assim, na falta de outra explicação, pensei comigo: "Bem, se é
um bom espírito a origem desse perfume, ótimo, estou em boa companhia." E
continuei meu trabalho.
Feitas as anotações na caderneta de campo e coletada uma amostra, voltamos, meu colega e eu, para o carro.
Quando
estávamos a poucos metros dele e da pedreira, vi um veio de quartzo e
hematita que atravessava a estrada em diagonal. Surpreso, pois eu não
vira nada quando passara por ali rumo à pedreira, parei e o examinei
usando o martelo. Era algo diferente, que não havíamos encontrado em
nenhum outro local. Tinha apenas uns 10 cm de espessura, o que não lhe
dava grande importância econômica, mas era uma ocorrência de minério e
ferro e, como tal, devia ser cadastrada.
A
direção do veio mostrava que ele deveria se estender para dentro da
pedreira que acabáramos de examinar. Assim, voltamos para lá, até porque
na pedreira ele deveria estar menos alterado e, talvez, com espessura
maior.
Começamos
a procurá-lo e, por mais que andássemos, não conseguíamos encontrar o
bendito veio. Insisti, porém, pois eu estava convencido de que ele
deveria aparecer lá, afinal, a distância da estrada até ali era muito
pequena.
Foi
aí que, em dado momento, lembrei-me do intrigante perfume que eu
sentira. Será que havia um espirito amigo me mostrando o local do veio?
Eu
lembrava perfeitamente do ponto em que sentira o perfume e fui lá. Não
deu outra. Ali estava o veio de hematita. O perfume, portanto, tinha por
objetivo não me fazer olhar para os lados em busca de uma flor, muito
menos olhar para o céu em busca de uma improvável visão espiritual. O
objetivo era me fazer olhar para o chão: eu estava pisando num veio de
hematita.
Foi uma experiência única, que eu nunca vivera antes nem voltei a viver depois.
E
por que eu nunca contei isso aos meus colegas geólogos? Ora,
simplesmente porque eles, e em especial meus chefes, poderiam pensar,
preocupados (e com uma boa dose de razão), que eu estava fazendo
“geologia espiritual”.
O Geólogo Pérsio de Moraes Branco tem a Alma Geológica, pois, utiliza o conhecimento espiritual como fator de desenvolvimento científico. Geólogo Marcelo Berbert
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